A PERIGOSA INVERSÃO DE VALORES

Prometo que depois deste post não escreverei mais sobre o referendo, mas quero chamar a atenção das pessoas para uma coisa: a inversão de valores da nossa sociedade que se revelou de maneira preocupante.

Começarei dizendo porque votei no SIM, resumidamente, depois abordarei essa questão.

Votei no SIM por quê:

1 – Acidentes domésticos acontecem, isso é fato, e se não houvesse armas nas casas o número de vítimas seria menor;

2 – Crimes passionais ocorrem em um número muito elevado e entendo que é muito mais fácil ser macho o suficiente para matar alguém com uma arma do que com outro instrumento qualquer, assim como acredito que a chance de reação da vítima é muito maior quando o agressor não tem uma arma, logo, teríamos vidas poupadas;

3 – Como já expliquei anteriormente, não entendo que a “legítima defesa” através da arma ou qualquer outro instrumento (reação) seja eficaz e boa, penso que ela mais traz prejuízos à vítima;

4 – Não há em nosso sistema penal a previsão de pena de morte, logo, se te roubam, a pena do assaltante é qualquer uma que não morrer (bandido bom não é bandido morto), alias, em um país tão desigual ninguém pode julgar quem merece ou não viver, isso não seria possível nem em um país igualitário;

5 – Armas legais, roubadas de “pessoas de bem”, também abastecem o crime, isso é fato;

6 – Votar SIM significa frear a corrida civil às armas que está ocorrendo e que todos consideram ruim, pois acredito que o referendo, seja qual fosse o vencedor, teria pouco ou nenhum efeito prático.

Desculpem-me os partidários do NÃO, mas todos os motivos acima citados são teoricamente incontroversos. Alguns não acharam-nos suficientes para cercearem o seu direito a possuir armas, eu achei.

Quanto à inversão de valores, vimos muitos comentários no sentido de que “bandido bom é bandido morto”; “invadiu tua casa mete bala”; “antes eles do que eu”; “só o que faltava o cara levar o que eu batalhei para conseguir, tem mais é que levar chumbo” e coisas assim. Nota-se nesses argumentos uma inversão de valores perigosa, mas que há muito é presente em nossa sociedade. As pessoas dão mais valor ao seu patrimônio do que a vida do próximo e, às vezes, até a sua própria. Isso tem que ser repensado, a vida em sociedade não precisa disto.






Resultado do Referendo

Dia de votação e como todos devem supor eu votei 2 (SIM). Encerrada a somatória dos votos o 1 (NÃO) ganhou fácil, como eu achei que acabaria sendo, embora me restasse uma esperança, ou melhor dizendo, residia em mim um desejo (que poético).

O “NÃO” tinha um chamamento muito forte (usei chamamento, pois me faltou outra palavra para melhor definir isto): “DEFENDA O SEU DIREITO”, “NÃO DEIXE QUE TE TIREM UM DIREITO”, “PROTEJA O SEU DIREITO” e assim afora.

Disse muito bem a comentarista do Globo News ao falar que o povo não votou somente a favor do comércio de armas, ele votou contra o governo, contra a corrupção, contra a ineficiência da segurança pública e etc. Concordo com ela, nesse sentido a pior coisa para a campanha do “SIM” foi o Lula abrir seu voto e sua simpatia a ela.

Lamento muito, pois perdemos uma chance de dar um belo golpe nessa indústria da morte, que ganha dinheiro com o derramamento de sangue alheio e que faz acontecer guerras ente países (ou vocês acham que os maiores investidores da campanha do Bush não iam cobrar retorno?).

Agora é torcer que os pequenos regulamentos que serão criados para finalizar o Estatuto sejam tão rigorosos como este pretendeu ser e torcer para que pare a corrida civil às armas (ou vais me dizer que não sabe que ela começou desde a notícia sobre o referendo?).

Em alguns dias escreverei meu último post sobre este tema, prometo, mas também prometo que ele será bom.






Quanto custa uma arma?

Registro – R$ 300,00
Porte – R$ 1.000,00
Arma mais barata no mercado legal – R$ 1.170,00
Total – R$ 2.470,00

Dei-me ao trabalho de ligar para a Taurus para saber o preço de uma arma. Fiz o cálculo com base na arma mais barata que eles tinham à venda.

Com exceção da arma, que pode ser parcelada, o resto tem que ser tudo na hora. Cheguei a conclusão que arma é, realmente, coisa para rico, pois, além destes preços, a cada triênio teríamos que desembolsar mais R$ 1.300,00 referentes à renovação do porte e do registro da arma.

Arma é coisa para rico e a propaganda do “VOTO NÃO” ainda tem a cara de pau de falar no programa de hoje que os ricos podem se encastelar e que a proibição do comércio legal vai afetar os pobres (momento em que mostram a imagem de uma favela). QUE NOJO DESSA FRENTE PARLAMENTAR, MENTIROSA E CORRUPTA, QUE DEFENDE ESSA INDÚSTRIA, SAFADA E SEM VERGONHA, DAS ARMAS.

PS: Estou indignado (risos).





Indecisão

Formo-me no final do ano que vem, isto é certo. Durante todo o ano que vem farei o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O problema é que não sei ainda sobre o que escreverei. Não sei se falo de Propriedade Industrial (tenho receio, pois não concordo integralmente com o instituto da propriedade privada), se falo sobre Função Social da Propriedade (mesma observação anterior), se falo sobre o Controle Jurisdicional dos Atos Administrativos (matéria sobre a qual eu já fiz uma mini-monografia), já me sugeriram falar sobre o Desarmamento e assim vai.

Gostaria de falar sobre a nossa lei 10101/00 que fala da participação nos lucros e resultados, pois acho a lei o cúmulo do ridículo e gostaria de reescrevê-la. Mas não sei se o TCC é o local mais apropriado para isso.

Acho que falarei sobre PI, estou em dívida com o meu grupo de estudos. Acho que vou falar sobre a Função Social das Patentes. Segundo o conselho da Jamila (já falei pra vocês dela, é uma colega minha de muito futuro) eu devo dar asas ao meu lado polêmico, não sei se meus orientadores vão deixar, mas vamos ver no que dá.






CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS!!!

Contra fatos não há argumentos. Fonte: Site do Terra

A pesquisa sobre o índice nacional de mortes por arma de fogo, divulgada no começo de setembro pelo Ministério da Saúde, aponta que o índice nacional de mortes por armas de fogo caiu 8,2% no ano passado, na comparação com 2003. Isso representa 3.234 vidas poupadas. O ministério afirma que esta é a primeira vez em 13 anos que cai o número de mortos por armas de fogo no País. Para o governo federal, o resultado está ligado à campanha do desarmamento.

[...]

O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, fez questão de ressaltar que os números de mortos caíram. Ele lembrou que, nos últimos 12 anos a curva era ascendente, com expectativa de continuar nessa trajetória, sem a campanha do desarmamento. "Não só não cresceu (o número de mortos), como reduziu", disse.


Acredito que o direito à vida dessas 3.234 pessoas (mesmo que fosse UMA só) é muito mais importante que esse direito de escolher se querem ou não uma arma.

PS: Tenho que escrever sobre outra coisa, estou ficando chato e estou me chateando.






TOLERÂNCIA ZERO!

Hoje em dia o diálogo perdeu força, alias, para que diálogo? Temos o judiciário para resolver nossas merrequices (acho que inventei uma palavra) e milhões de pessoas lá fora para serem nossos amigos, para que conversar para resolver um problema ou cultivar uma antiga amizade?

As pessoas não conversam mais, elas te processam ou te descartam. Afinal de contas, para que servem as milhões de pessoas lá fora e os juízes?

Eu não estou muito inspirado para escrever, na verdade eu ando meio perplexo com as pessoas em geral. Tenho sentido uma falta de maturidade tão grande que confesso estar assustado. Hoje vige a lei da tolerância zero, qualquer coisinha é motivo para uma avalanche. As pessoas não se entendem mais, alias, as pessoas não querem se entender e cobram uma das outras uma perfeição que ninguém possui. Em outros termos, ninguém pode errar, mesmo considerando o fato de que o erro em si é algo subjetivo.

Tudo é visto como um desacato, no real sentido da palavra, pois parece que para alguns existe uma hierarquia de pessoas, sendo que elas, claro, estão no topo. Qualquer mísera coisa é algo pessoal e imperdoável.

Falta discernimento, compreensão, bom senso e, sobretudo, humildade. Discernimento para sabermos o contexto das coisas e das pessoas para sabermos os motivos que levaram “quem” a fazer “o que”. Compreensão para saber que errar é humano e perdoar não é divino, mas é muitas vezes necessário. Bom senso para notarmos que existem maneiras melhores de resolvermos um conflito do que buscarmos o judiciário ou terminarmos qualquer vínculo existente. Humildade para sabermos que o que é errado para um não pode não ser para o outro e que não há nada no universo que possa atestar quem está certo (talvez Deus, mas você é Deus para saber?).

A loucura esta posta ai gente, acabando com amizades, vínculos e lotando o judiciário.






MUDEI MEU VOTO, AGORA VOTO NÃO!!!

Vou colar um e-mail que recebi, ele tem a versão do SIM e do NÃO, procurem a outra se quiserem.

Agora voto NÃO, sabe por que?

Antes, eu tinha certeza de que ia votar no SIM, ninguém ia me convencer do contrário.

Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NAO no orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do NÃO me convenceram.

Vou votar NÃO. Sabe por que?

Vou dar 23 motivos:

1 - Descobri que o governo quer desarmar a população para escravizar todo mundo, e ninguém poder resistir usando os seus revólveres contra os fuzis, tanques e aviões do exército;

2 - Que arma traz segurança, já que todo mundo que reage a um assalto, mesmo que nunca tenha atirado em alguém, mata o bandido e escapa ileso;

3 - Que os bandidos só não assaltam todo mundo e fazem a festa porque têm medo que as pessoas estejam armadas, já que são todos covardes e a polícia não serve pra nada mesmo.

4 - Que os países ricos têm muitas armas e pouca violência, o que me levou a defender a idéia de que o Governo deve distribuir armas para acabar com a pobreza e a violência;

5 - Aprendi que bandido não usa revólver ou pistola, mas só AR15, fuzis, granada... Minha casa mesmo foi assaltada ontem por três caras com bazucas.

6 - Que o governo está querendo proibir a venda de armas para acabar com a indústria de armas brasileira e defender o interesse da Globo e dos EUA em uma conspiração global em defesa da criminalidade; Uhhhh, que medo, a conspiração vai me pegar...

7 - Que se o país for invadido pelos EUA, ninguém vai ter armas para resistir à invasão;

8 - Entendi que arma não mata gente inocente, só bandidos, que todo mundo cuida super bem das suas armas legalizadas, que ninguém é irresponsável...;

9 - Que depois que o Governo proibir a venda de armas, vai proibir todos os outros direitos também e ninguém vai poder dirigir, fumar, ou colecionar andar de bicicleta...;

10 - Aprendi que é muito mais fácil matar em um crime passional com um travesseiro ou com uma faca do que com uma arma de fogo;

11 - Compreendi que os bandidos sempre invadem as casas sozinhos, desarmados e sem cobertura, e que se eu tiver uma arma em casa vou poder facilmente me defender contra 3 ou 5 bandidos fortemente armados;

12 - Aprendi que se alguém de "bem" tiver uma arma e começar uma briga com outra pessoa de "bem", ninguém vai morrer, já que são pessoas de bem" e responsáveis;

13 - Entendi que a fiscalização da venda e do porte de armas que o Governo faz é eficiente e impede que as armas sejam desviadas ou roubadas e caiam nas mãos dos bandidos;

14 - Aprendi que um bandido armado não vai reagir e atirar em mim se eu tentar atirar nele, afinal, a arma que eles usam é só para assustar;

15 - Compreendi que um bandido armado que não tem nada a perder vai fugir assim que eu puxar a arma, afinal são todos covardes mesmo;

16 - Que eu, que nunca atirei em ninguém, vou ter melhor mira, coragem e poder de reação que um bandido armado e preparado para matar;

17 - Descobri que as armas legalizadas não são roubadas ou usadas para matar pessoas de bem, já que os bandidos só usam AR15. Pelo visto, assinaram um contrato de exclusividade;

18 - Aprendi que a melhor maneira de combater a criminalidade é dar armas para a população de bem se defender. Que é só todo mundo sair
por aí atirando nos bandidos que acabou o crime! Podemos acabar com a polícia, não serve para nada mesmo.

19 - Entendi que quem estuda, faz pesquisas e debate o assunto, e defende o SIM, não entende nada. Que os pesquisadores das universidades e do governo não sabem nada. Que só quem entende do assunto é a nossa polícia extremamente culta e bem treinada, os possuidores de armas e os empresários das indústrias de armas, que só querem o nosso bem;

20 - Aprendi que se estiver sendo assaltado e não tiver uma arma, já que o porte ilegal continua sendo crime, basta eu gritar por socorro que logo o Rambo vai vir me socorrer, estando armado até os dentes.

21 - Entendi que se alguém dá um tiro para o alto, seja para o que for, essa bala vai para o espaço sideral e não corre o risco de matar ninguém quando cair de volta;

22 - Aprendi que o comércio de armas não leva ao porte ilegal de armas, já que todo mundo deixa as suas armas guardadas em casa direitinho;

23 - Compreendi que as pessoas só usam arma para se defender de bandidos, já que ninguém puxa uma arma em brigas no trânsito, em brigas de bar...

Obaaaaaa!!! Arma é a melhor coisa do mundo. "Seus probrema se acabaram" - Vamos todos comprar armas e acabar com a criminalidade!!!!!!





ARMAS: ALÉM DO SIM OU DO NÃO

No dia 23 de outubro votaremos no referendo sobre o desarmamento, que tem gerado uma polêmica imensa. Apesar das acaloradas discussões que suscitou, é gritante o desconhecimento em relação às conseqüências da proibição ou não do comércio de armas e de como é, em si, nas suas regras e previsões, o Estatuto do Desarmamento. Portanto, é importante uma análise do Estatuto em si para podermos nos posicionar a respeito.

Muito tem se falado em desarmar a população ordeira, mas este não é um imperativo do Estatuto. Hoje, seguindo as regras do mesmo, existem duas formas de posse de armas: o porte e registro, que dá direito de ir e vir com a arma, e somente o registro, que dá direito de manter uma arma na residência ou local de trabalho.

A conseqüência imediata do Estatuto é a dificultação criada para a obtenção de porte de arma de fogo e a imposição de mecanismos mais eficazes de controle destas armas. Esta dificultação se dá no âmbito dos requisitos para obtenção do porte e da majoração de preços para tal.

O que há, hoje, é uma campanha para entrega de armas de fogo mediante remuneração. A entrega é voluntária e livre de encargos com a justiça, logo, é uma campanha de mera adesão, não sendo um imperativo legal. Apesar disto ser de fácil compreensão, tem gerado grande confusão para muitos, que estão pensando ser obrigatória a entrega das armas que possuírem.

Então, onde incide a aprovação ou não do comércio de armas de fogo e munição? A aprovação deixa a situação exatamente como está posta hoje. Com a proibição, consoante o artigo 35 da lei 10826/03, fica “proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6º desta Lei” (destaque nosso).

Uma análise minuciosa do artigo 6º mostra que em seu rol não constam, entre todas as pessoas ou entidades a quem o Estatuto permite o acesso à armas de fogo e munição, os civis que não sejam de área rural e dependentes do emprego da arma de fogo para subsistência. Assim sendo, somente estes não poderão ter acesso a armas de fogo e munição, já que não poderão comprá-las.

Aqui, torna-se de suma importância um destaque. Muitos têm defendido a tese de que, embora seja proibida a venda em território nacional, poderiam os civis que não sejam residentes de área rural adquirir suas armas e munições no exterior, tendo apenas que promover seu registro em âmbito nacional. Porém, ao meu entender, isto não é possível devido a duas imposições legais. Em uma primeira visão, temos que o artigo 8º, §1º da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil) preceitua que, em se tratando de bens móveis, aplicar-se-á a lei do país em que é domiciliado o proprietário, ou seja, seria aplicada a lei brasileira que no artigo 17 do Estatuto do Desarmamento condena à pena de quatro a oito anos e multa quem “adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar” (destaques nossos). A contrário senso, poderia o aplicador da lei entender que a mera compra de uma arma não seria uma atividade comercial, por não haver habitualidade ou outro requisito, ou ainda não considerar o adquirente proprietário uma vez que restaria configurada a fraude a lei, o que retiraria a eficácia do ato de compra e venda. Mesmo assim, não se afastaria a conduta do adquirente da tipificação do artigo 18 do Estatuto, que condena à pena de quatro a oito anos e multa quem “importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente” (destaques nossos).

Não obstante, importa salientar que o rol deste artigo não é numerus clausus, ou seja, ele permite que uma nova lei o complemente ou o magistrado o faça mediante interpretação em processo judicial. Segundo sua redação: “é proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria [...]” (destaque nosso). Por outro lado, é preciso considerar que a eventual proibição do comércio de armas não obriga que qualquer pessoa devolva as armas legalmente adquiridas antes da publicação desta proibição.

A favor da comercialização de armas de fogo e munição pesa o argumento que alega a ineficiência do Estado como garantidor da segurança do cidadão, o argumento do direito à legítima defesa e o argumento, muito bem articulado pelos seus defensores, de que a liberação do comércio de armas não passa da legitimação de um direito a ter uma arma (possibilidade) e não de um dever de tê-la (causa e efeito).

Além destes, há outro argumento: se o Estatuto indica, no seu artigo 10, que, em determinados casos, há a necessidade do cidadão possuir o porte de arma (às pessoas que demonstrarem “a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física”), é uma contradição dar-se este direito (reconhecer uma eventual necessidade) e impedir seu exercício (negar atenção).

Os argumentos referentes à ineficiência do Estado como garantidor da segurança pública e o do direito à legítima defesa estão intimamente ligados. Embora, no atual contexto, a situação à qual se refere o primeiro argumento seja uma realidade, o direito a legitima defesa não é sua solução, pois é um direito que dificilmente poderá ser exercido.

Uma arma caseira registrada na conformidade com a lei deverá estar muito bem escondida para que seu possuidor não se enquadre no artigo 13 da lei que prevê pena de detenção, de um a dois anos, e multa para quem “deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade” (destaque nosso). Logo, tendo presente que o "bandido" sempre tem a seu favor o elemento surpresa e que o proprietário precisará buscar a arma em um local de difícil acesso, conclui-se que, neste ínterim, o direito à defesa via arma de fogo muito dificilmente será exercido.

Na hipótese de porte, acontece o mesmo. A abordagem do assaltante é direta e de surpresa. A arma da vítima se encontrará em um local diverso de sua mão. Dentro dessa perspectiva, fica difícil usar o argumento de violação do direito à legítima defesa, pois, via-de-regra, este não poderá ser exercido de maneira que não implique em um perigo muito maior à vítima. Exceções, neste caso, apenas confirmarão a regra.

Dizer que se está lutando por um direito de ter armas e não um dever pode nos parecer muito coerente e justo em uma primeira abordagem. Porém, há de se questionar se esse exercício de direito por parte de um não traz prejuízos aos demais. Aqui temos o contra-ataque da campanha do sim baseada nos homicídios passionais e acidentes domésticos e urbanos.

Resta o último argumento levantado, porém, este também poderá sofrer reparos na medida em que o rol do artigo sexto não é taxativo e pode ser emendado via nova legislação ou interpretação judicial, ou seja, pode o referendo não ter valor prático. Outra contra-argumentação que pode ser levantada é que: se já se sabe que a possibilidade de exercer a legítima defesa pela arma é mínima, não seria mais eficaz utilizar o dinheiro que seria empregado para retirar o porte, fazer o registro e comprar a arma para contratar um segurança particular? Não só é possível como seria muito mais eficaz.

Outra argumentação usada pelos defensores do comércio de armas é o fato de que os “bandidos” não entregarão suas armas. Sim, isto é fato, porém, não podemos deixar de lembrar que uma lei tem caráter geral, aplica-se a todos. Os “bandidos”, obviamente não entregarão suas armas, mas isso não impede que eles, por serem “bandidos”, não sofram as sanções da lei. Este argumento tem sido usado de maneira pouco inteligente, dando sempre a entender que os “bandidos” não seriam abarcados pela legislação. Isso, colocado para um conhecedor do direito, não gera maiores conseqüências, porém, colocado a leigos, pode gerar uma grande confusão e um grande engano.

Contra a comercialização de armas pesa argumento, amparado por pesquisas, que apontam que a posse de uma arma de fogo traz mais risco à vida do que proteção. Além deste, existem outros argumentos que têm por enfoque esvaziar os argumentos dos que entendem que deva ser permitida a comercialização. O principal deles, abordado anteriormente, indica que a legítima defesa não se verifica faticamente. Porém, há outros argumentos que merecem atenção, tais como os que visam à prevenção de acidentes domésticos e urbanos. Por exemplo, a situação de um pequeno acidente de trânsito, o qual, pelo exaltamento das partes e pela presença de uma arma, pode tornar-se uma tragédia.

Numa outra dimensão, é possível constatar que toda a discussão sobre a liberação ou não do comércio de armas e munição da visibilidade a desigualdade e ao aumento do individualismo em nossa sociedade. Quando a discussão é entre leigos a tendência dos que defendem a comercialização é assumir uma postura raivosa apoiada em argumentos do tipo: se vagabundo entra na minha casa para roubar tem mais é que levar chumbo. É preciso refletir sobre esses posicionamentos. Vivemos em uma sociedade muito desigual, onde os mais pobres, que são maioria, não têm condições de manter-se dignamente. A exploração e a dominação características do regime do capital geram o pobre e geram a violência. Reagir armado sobre as conseqüências não eliminará as causas da violência.

Nesse sentido, há um aspecto que chama a atenção em tudo isso. Muitas pessoas estão se colocando em uma posição de divindade, capazes de distinguir quem é “vagabundo” e quem não é. Ou, numa hipótese pior, exercer um direito de vida e morte sobre outrem. Seria “vagabundo” o pai de família que trabalha o dia inteiro, chega em casa e vê, dia após dia, os filhos com fome e decide tomar uma atitude extrema para superar esta miséria? Penso que não. Indo mais além, seria possível pensar que ele está usando de legítima defesa contra o sistema que o oprime?

Penso ser a hora de proibir-se a comercialização de armas. Penso isso por todos motivos já explicitados e porque já há estatísticas da polícia federal indicando uma corrida armamentista civil pós-estatuto, fato que deverá se consolidar e aumentar com uma não proibição do comércio de armas devido ao fetichismo das propagandas pró e contra armas.

Porém, seja a favor ou contra, é imprescindível que haja uma conscientização sobre o tema. É preciso evitar que haja uma corrida armamentista civil e que se deposite nas armas a esperança de acabar com a violência. Mais importante que a aprovação ou não do comércio de armas é esta conscientização da população sobre as causas da violência e sobre como transformar este contexto, na luta por políticas públicas que diminuam a desigualdade social e promovam o cuidado e a solidariedade.

Em tempo, uma breve palavrinha sobre o referendo em si. Muito o estão menosprezando, dizendo ser uma vergonha se gastar tanto com algo assim. Pergunto: já viram tantas pessoas, de classes tão diferentes, comentarem e se in formarem sobre um mesmo assunto, independentemente da posição que adotem? O primeiro aspecto é que o referendo é necessário, a divergência de opiniões por si só mostra a importância dele. O segundo aspecto vem em resposta à pergunta, pois desde o impeachment do presidente Color não há tamanha interação entre as pessoas. Qualquer destes aspectos, por si só, referendam o referendo.

Tadavia, parafraseando Suzana de Souza Gutierrez, "deixo com vocês os restantes Nós na Rede. Vale a pena viajar pela riqueza de argumentos e posturas".






Novidades...

Sairá a minha primeira publicação, graças a este blog. Não pensei que ele fosse me trazer algum resultado neste sentido, mas trouxe, e rápido.

É um artigo sobre o desarmamento. Ficou pequeno devido aos parâmetros da revista, mas devo colocá-lo à disposição aqui no blog. A sua versão completa eu vou postar no dia 10 (segunda) quando participar do blogativismo do "Nós na Rede" que debaterá o referendo.





PROPAGANDA ENGANOSA!!!

Tenho acompanhado os programas eleitorais do desarmamento. Só uma palavra a respeito da “VOTO NÃO”: LAMENTÁVEL.

O programa da frente parlamentar pelo direito à defesa é baseado na ignorância alheia sobre o Estatuto. Aposta em falácias e mentiras. É, a exemplo dos programas políticos habituais, antiético, oportunista, alienante e mentiroso.

Uma coisa é tu defenderes um posicionamento frente uma questão, agora, contar mentiras e enganar o eleitorado não pode acontecer. Acredito que o TSE deva tomar alguma atitude.

Para quem não viu ou não percebeu, o programa dos adeptos do não, cita casos em que há o direito de compra de arma, colocando-os como se ele fosse acabar (cito como exemplo os casos dos trabalhadores rurais que mesmo com o “SIM” continuarão podendo comprar armas, mas a frente parlamentar defensora do “NÃO” insiste em dizer que eles perderão o direito). Prova sua má-fé ou completo desconhecimento do estatuto, desconhecimento o qual eu não acredito.

E, caso não tenham notado, estou “P” da cara com isso. VOTEM SIM!!!